A carta pessoal é um gênero discursivo em que o autor do texto se dirige a um interlocutor específico, com o qual pretende estabelecer uma comunicação a distância. Normalmente, é utilizada para comunicar aos amigos ou familiares notícias ou assuntos de interesse comum, de forma mais longa e detalhada. Como texto de caráter pessoal, a carta pessoal deve ter o nível de formalidade da linguagem estabelecido em função do interlocutor para quem é dirigida. Quanto maior a intimidade entre os interlocutores, mais informal tende a ser a linguagem utilizada.
Sobre as cartas de amor, poetiza Fernando Pessoa:
Todas as cartas de amor...
Fernando Pessoa
(Poema: Álvaro de Campos)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21/10/1935
Versos escritos sob o heterônimo de Álvaro de Campos.
PESSOA, Fernando. Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: Cia. José Aguilar Editora, 1972, p. 399.
Comentários
cartas de amor
há dias sim há dias não
vamos lá puxar da razão
amor quem o não tem
cartas e-mails sms
a moda que o veste e o contém
exteriorização de um interior que palpita
e urge que pela mão passe à escrita
papel de seda algodão linho licra
às bolinhas justas coloridas
o tempo o dita
imperioso atender ao suporte a escolher
leve pesado resistente maleável quebradiço
há que proteger o amor
não lhe dê algum feitiço
ai, amor!
a paixão que encanta
o fogo da escrita
in "Cintilações", Ana T. Freitas