Meu senhor, minha senhora,
vim cantar por precisão,
falar da nossa nação,
de gente que sofre e chora
nas mãos de quem ri e explora:
índio, negro, quilombola,
idosos que pedem esmola,
crianças prostituídas
nos bares, nas avenidas,
onde muitos cheiram cola.
Cortei matas e cerrados
Vi coisas que nem se crê,
E não se vê na tevê,
Pois todos ficam calados,
P’ra proteger os errados,
Que tiram do pobre o pão,
Seu pedacinho de chão,
seu roçado, porco e gado,
beira de rio cevado,
e gritar não pode não.
Vi criançinha faminta,
E seus pais desesperados,
Os velhos tão mal tratados,
Por gente de boa pinta,
Que se diz muito distinta,
Mas que não vale um tostão,
Por não ver co’o coração
A humildade dessa gente,
que vai ficando indigente,
sem terra, sem lar, sem pão.
Vi trator passar por cima
De lares de tanta gente,
Vi tanta coisa indecente,
Rio abaixo e rio acima
Que quase me desanima,
Mas logo olho no espelho,
brandindo na mão um relho,
jurando enquanto me fito,
soltando no ar meu grito:
Ninguém me dobra o joelho!
Eu não vou parar a luta,
nem abandonar meu dom,
de cantar em alto tom,
a lida e a dor, vida bruta,
de quem a terra disputa,
durante a noite e de dia,
sem ter na vida alegria,
que chorando a terra ara,
co'o sol ardendo na cara,
de tanto que ele alumia.
O que eu vi, ó, meus senhores
no meu repente não cabe,
mas antes que ele s'acabe,
vou dizer, sem ter pudores,
com todos os tons e cores:
Que vergonha, ó, meu Brasil,
que sob o teu céu d'anil
tanta injustiça se veja,
enquanto bebem cerveja
aqueles que tramam o ardil.
vim cantar por precisão,
falar da nossa nação,
de gente que sofre e chora
nas mãos de quem ri e explora:
índio, negro, quilombola,
idosos que pedem esmola,
crianças prostituídas
nos bares, nas avenidas,
onde muitos cheiram cola.
Cortei matas e cerrados
Vi coisas que nem se crê,
E não se vê na tevê,
Pois todos ficam calados,
P’ra proteger os errados,
Que tiram do pobre o pão,
Seu pedacinho de chão,
seu roçado, porco e gado,
beira de rio cevado,
e gritar não pode não.
Vi criançinha faminta,
E seus pais desesperados,
Os velhos tão mal tratados,
Por gente de boa pinta,
Que se diz muito distinta,
Mas que não vale um tostão,
Por não ver co’o coração
A humildade dessa gente,
que vai ficando indigente,
sem terra, sem lar, sem pão.
Vi trator passar por cima
De lares de tanta gente,
Vi tanta coisa indecente,
Rio abaixo e rio acima
Que quase me desanima,
Mas logo olho no espelho,
brandindo na mão um relho,
jurando enquanto me fito,
soltando no ar meu grito:
Ninguém me dobra o joelho!
Eu não vou parar a luta,
nem abandonar meu dom,
de cantar em alto tom,
a lida e a dor, vida bruta,
de quem a terra disputa,
durante a noite e de dia,
sem ter na vida alegria,
que chorando a terra ara,
co'o sol ardendo na cara,
de tanto que ele alumia.
O que eu vi, ó, meus senhores
no meu repente não cabe,
mas antes que ele s'acabe,
vou dizer, sem ter pudores,
com todos os tons e cores:
Que vergonha, ó, meu Brasil,
que sob o teu céu d'anil
tanta injustiça se veja,
enquanto bebem cerveja
aqueles que tramam o ardil.
Respostas
Marcial Salaverry disse: