Posts de Edir Pina de Barros (373)

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Como calar a voz que não se cala?

 

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Como calar a voz que não se cala,

que escapa pela goela da memória,

que traz à tona sempre a luz da história

que não se enterra, não, em qualquer vala.

 

Há vozes que ninguém nunca avassala

clamando por justiça e por vitória,

e não por solução que é provisória

que nunca muda o tom, nem mesmo a escala.

 

Quanta injustiça a nossa história encobre,

jamais se pensa na criança pobre

que nunca vê a luz da paz bendita.

 

Ninguém há de calar a voz que grita

- não por retaliação, qualquer vindita –

mas por reparação, que é causa nobre.

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)

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Não ando só

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Não ando só

Edir Pina de Barros

Por vezes penso que ninguém me nota,

que eu chego sem ter ido a parte alguma,

que em pleno sol a vida em si se abruma,

que eu vou perder sentido, rumo, rota.

 

Minha presença em mim mesma se esgota,

minhas palavras fogem uma a uma,

e minha ausência aos poucos se avoluma,

na multidão me sinto mera ilhota.

 

Porém não ando só – ando comigo -

e a versejar a vida assim prossigo

atenta aos seus encantos tão diversos.

 

Sem eles nem viver eu ousaria

andejo sobre os rastos da poesia

a transmudar a solidão em versos.

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Súplica

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Oh! Tempo! Miro-te de frente e altiva
pois sei que a vida é pouca e passageira,
e a morte andeja ao lado e a mim me beira
fingindo não me ver para que eu viva.

Eu sei, ó, Tempo, que ando em tua esteira,
mas que sou livre, mesmo assim cativa,
para sonhar. E o sonho me motiva
a versejar a vida como eu queira.

Eu sei! Tu és senhor da vida e morte.

A poesia a mim me dá suporte
para fazer em paz a travessia.

Eu sou mortal, Senhor da eternidade!
Ah! Deixa-me cantar para que eu brade
a vida em versos que minh’alma cria.

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Brisa

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Brisa
Edir Pina de Barros

Eu não sou ilha ainda que assim queiras
também não sou teu mar, nem continente
porque sou brisa – passo de repente –
não tenho bordas, não, nem mesmo beiras.

Quando me queres nunca estou presente,
porque na brisa não se põe coleiras,
nem peias, nem correntes, nem fronteiras,
mas sempre estou contigo, mesmo ausente.

Eu sou apenas uma vã quimera
estou ausente quando mais se espera
e nada me retém, nem os penedos.

Ah! Meu amado! Não se prende brisa
porque é incorpórea, fluida, sem divisa
e escapa sempre pelos vãos dos dedos.

(Tela - Rafal Olbinski)

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Harpia

3541988225?profile=originalAndei sonhando mais do que eu devia,

e agora estou aqui – asas quebradas –

sem ter comigo as prendas tão sonhadas,

repleta de vazios.  Pobre harpia

 

que planou alto, asas envergadas,

buscando o resplendor da serrania,

os cumes, onde reina a calmaria,

olhar de lince, unhas aguçadas.

 

Sonhar, voar planando nas alturas

para tombar no chão das desventuras

sem alcançar os tão sonhados cumes. 

 

Mas como não sonhar, planar nos céus?

Como viver incréu entre os incréus?

Ficam nos ninhos pássaros implumes.

 

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Coração humano

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Coração humano
Edir Pina de Barros

O coração humano é uma jangada
que voga em pleno mar das incertezas,
nas vagas das paixões e das fraquezas
sem âncora segura a ser lançada.

Enquanto vai ao léu o vento brada
enfurecendo o mar nas profundezas
das emoções, tão frágeis e indefesas,
que tornam mais difícil a jornada.

O coração humano é o próprio mar
que se arrebenta todo a se escumar
na praia, sobre a branca e fina areia.

Melhor assim! Que não seja rochedo
o coração humano. E que sem medo
viva o amor, que tanto se escasseia.

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Pejos

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Quando me fitas dentro os olhos, quando
assim me espreitas sem quaisquer pudores,
com esse jeito audaz dos caçadores
que adentram a mata e vão além, caçando;
 
e quando mais e mais me vais fitando
os olhos cheios d’água, de candores,
eu juro que eu  iria aonde fores
e tu assumirias o comando.

Mas eu – com tantos pejos de menina –
baixo os meus olhos, cheios de desejo,
escapo e  bem depressa viro a esquina.
 
Mas quando pelas ruas eu te vejo
e encontro o teu olhar, que me alucina,
do meu escapa a súplica de um beijo

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Velocino de Ouro

3541971856?profile=originalVelocino de Ouro

Edir Pina de Barros

 

Quando eu sair das luzes da ribalta,

e enfim  tudo acabar, cair o pano,

liberta desse louco amor tirano,

hei de seguir serena, em paz, incauta.

 

Mesmo que sinta, ainda, a tua falta,

falta de teu carinho e olor humano,

superarei a dor da perda, o dano,

pois sou, no mar da vida, uma argonauta.

 

Eu vencerei  os mares e os dragões,

renascerei do fundo dos porões,

e envergarei o aço do destino.

 

Assim eu sou – renasço dos escombros

de quem eu fui -  e volto tendo aos ombros

a espada e o meu troféu: o  Velocino.

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Absinto e Mel

Absinto e mel

Edir Pina de Barros3541971996?profile=originalEu já vivi, do amor, os apogeus,
e, do prazer, os píncaros sagrados,
de todos os mais belos, enflorados,
mais belos que os vergéis do eterno Zeus;

também plantei os brancos lírios meus
na terra fértil dos enamorados,
porque demais amei tempos passados
provei o fel do mais amargo adeus.

Absinto e mel, as seivas dos amores 
que correm dentro a árvore da vida,
nos ciclos sazonais, tão soberanos.

Amar! Amar! A fonte dos candores,
de encontros, desencontros, despedida,
penares que nos tornam mais humanos

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Flor do Cerrado

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Flor do Cerrado sou e aqui eu canto

os versos que escrevi sem iras, sanhas,
libertos de malícias, de artimanhas,
guiados pelo amor, que é sacrossanto.

 

Eu sou a simples flor desse recanto,
que nasce sem plantio das entranhas
da terra-mãe, do ventre das campanhas, 
nas rachas, onde viço e me levanto.

 

Ressurjo no terreno calcinado,
nas cinzas do capim carbonizado,
que a chuva, generosa, beija e afaga.

 

Renasço das raízes do passado,
da seiva que escorreu da minha chaga,
por entre pedras, paus, fuligens, praga.

 

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Confissões (45)

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De nada nos valeu a despedida,

As lágrimas, o beijo, o forte abraço,

As confissões de mágoas, de cansaço

Das noites sem dormir, da paz perdida.

 

Nossa intenção tornou-se desvalida,

Porque resiste o amor, persiste o laço,

Tornando-se mais forte do que o aço,

Que a um novo enlace sempre nos convida.

 

Ah se eu pudera, sim, te esqueceria,

Para acabar de vez com essa agonia,

Esse febril estado de desejo.

 

Mas cá estamos nós de novo juntos,

Os lábios mudos, sem quaisquer assuntos,

A tremular na súplica de um beijo.

 

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Reflexões (7): sobre a dor

 

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Se na dor sobrevive algum enlevo,

a réstia que ficou de  um terno encanto,

precipitado sólido do pranto,

cantá-la, sim,  desejo – e mesmo devo.

 

Ignorá-la? Nunca! Não me atrevo!

Por isso aqui a exalto, rimo e canto

(ainda que te cause certo espanto)

neste soneto que chorando escrevo.

 

Sem luz não haveria escuridão,

sem erro não teria, não, perdão

e o mundo, enfim, seria uma tristura.

 

A dor expõe a nossa humanidade,

do amor é filha, é filha da saudade,

a sacrossanta dor que nos tortura.

 

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Confissões (39)

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 "Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho." (Fernando Pessoa)

 

Confesso, nunca tive essa ambição

de ser, na vida, escriba ou poetisa,

sou passageira, feito a leve brisa

ou como a fresca chuva de verão.

 

eu amo mesmo é a intensa solidão,

profunda, que não tem qualquer divisa,

que a mim me enlaça, sempre à sua guisa,

na minha interminável reclusão.

 

Os versos que já fiz, joguei ao léu,

(rondel, soneto, trova, algum cordel)

são frutos dessa minha solitude.

 

Eu amo viver só, estar sozinha,

mas a poesia vem e em mim se aninha

com toda a sua etérea concretude.

 

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Eu necessito urgente de um poeta

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Eu necessito - urgente - de um poeta

que me conjugue o verbo amar em versos,

que me emocione desde os meus anversos,

de forma delicada e bem completa;

 

e que desvele a rima predileta

entre os sonetos meus, os mais diversos,

inscritos dentro em mim, nos universos

do cosmo desta escriba só, discreta.

 

Um poeta que me diga da beleza

que existe no arco-íris, nas falenas,

 nas pequeninas flores, no vazio.

 

Eu necessito, sim, de singeleza

porque só conheci chacais e hienas,

que me deixaram n’alma a dor e o estio.

 

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Lua encantada

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Poeta acorda e vem mirar a lua

no céu escuro, bela e cintilante,

usando um véu de estrelas por turbante

e pó de prata sobre a face sua.

 

Vem espreitá-la, ao menos por instante,

está tão branca, feito a cacatua,

e bem mais bela do que quando nua

desfila pelo céu,  insinuante.

 

Andeja sobre o manto estrelejado

- tapete tão macio e aveludado –

envolta, feito ninfa, nos seus véus.

 

Está demais garbosa, uma graça,

deixando fios de prata onde passa,

e sonhos dentro d’alma dos  incréus.

 

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Garça na tempestade

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Em meio à tempestade vai a garça

revoa, tão perdida, tão sem norte,

cruzando a ventania fria e forte

que o véu do dia , sem cessar, esgarça.

 

E segue só, sem ter qualquer comparsa,

levada pelos ventos, rumo à morte,

sem nada que a proteja, que a conforte,

ao menos uma luz suave, esparsa.

 

Distante do conforto dos ninhais,

olhando, com tristeza, os pantanais

deixa-se ir, entregue à tempestade.

 

As plumas, brancas plumas, voam soltas

em meio às ventanias, tão revoltas,

e o corpo tomba, enfim, na escuridade.

 

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